A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado deve
aprovar hoje, em decisão terminativa, um projeto de lei autorizando a
desaposentação (ou desaposentadoria). O mecanismo permite ao aposentado
continuar trabalhando e depois pedir aumento do benefício pelo tempo adicional
que contribuiu, o que na prática, pode provocar um rombo significativo na
Previdência Social.
O projeto, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS),
pretende limitar a revisão da aposentadoria àqueles que, ao voltarem a
trabalhar, abram mão do benefício. Ao decidir se aposentar novamente, o cidadão
poderia pedir que os anos adicionais de trabalho e contribuição ao Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS) fossem incorporados no
cálculo.
O texto, no entanto, não é claro sobre as condições
da "renúncia" à aposentadoria, abrindo brecha para que aposentados que continuam
trabalhando e recebendo do INSS sejam beneficiados. Após aprovação na CAS, o
projeto ainda precisa ser aprovado pela Câmara, mas explicita a movimentação do
Congresso para legalizar uma questão que se arrasta há anos no
Judiciário.
De acordo com a Advocacia-Geral da União (AGU), que
defende judicialmente o INSS, há atualmente mais de 24 mil processos de
desaposentação correndo na Justiça. Além disso, o governo contabiliza cerca de
500 mil aposentados que continuam ativos e contribuindo para a Previdência
Social. "Há projeções de longo prazo, cálculos financeiros e atuariais,
estimando que ao longo de 20 anos se tenha um custo adicional de R$ 50 bilhões
caso essa renúncia seja permitida", afirmou Gustavo Freitas de Lima, diretor
substituto do Departamento de Contencioso da Procuradoria-Geral Federal (órgão
vinculado à AGU).
O alto número de processos requisitando a
desaposentação levou o Supremo Tribunal Federal (STF) a escolher, em 2011, um
dos recursos extraordinários que chegaram à Corte para ter efeito de repercussão
geral, ou seja, a decisão dos ministros deverá ser seguida por todas as
instâncias do Judiciário.
O julgamento no Supremo,
no entanto, ainda não tem previsão para ser realizado. O relator do processo era
o ministro Carlos Ayres Britto, aposentado em novembro. Suas relatorias serão
entregues ao seu sucessor, que não foi sequer indicado pela presidente Dilma
Rousseff.
Gustavo Augusto explica que a AGU não tem uma
posição sobre o projeto de lei de Paim especificamente. Mas defende que além de
a desaposentação ser inconstitucional, caso ela seja concedida, o cidadão
deveria ser obrigado a devolver os valores recebidos quando da primeira
aposentadoria.
"A maioria dos países não permite que o aposentado
continue trabalhando. O Brasil tem essa particularidade e gera essa
perplexidade, essa insegurança jurídica", declarou. O projeto aprovado pelos
senadores deixa claro que o aposentado não precisará devolver o que recebeu do
INSS.
O líder do governo no Congresso, senador José
Pimentel (PT-CE), afirmou que vai discutir com o Executivo uma forma de
viabilizar a desaposentação. "Estou consolidando um conjunto de projetos, que
muitas vezes são até contraditórios, para firmar um entendimento do Senado",
disse. (Yvna Sousa - Valor Online)
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