Manter a sustentabilidade do atual modelo
previdenciário e ampliar a sua cobertura. Esses são algumas dos desafios que o
Ministério da Previdência Social terá que enfrentar nos médio e no longo prazo.
De 2003 até o momento, a cobertura dos trabalhadores passou de 52% para 64%.
Isso sem mencionar os idosos, cuja cobertura já abrange 82%, conforme disse
nesta quinta-feira ao MONITOR MERCANTIL o secretário-executivo do Ministério da
Previdência Social, Carlos Eduardo Gabas, para quem o ministério está
trabalhando muito bem na ampliação da cobertura. A Previdência Social tem um
gasto mensal de cerca de R$ 35 bilhões com o pagamento de
aposentadorias.
- Na década de 80, esse modelo foi muito
questionado. É um modelo de repartição solidária. E os países do dito primeiro
mundo vinham na orientação de privatização da previdência. Graças aos sindicatos
e os partidos de esquerda, esse modelo conseguiu resistir e tem sido copiado
pelo mundo. Conseguimos combinar o modelo solidário (repartição) com o
assistencial, onde cerca de 8 milhões de benefícios são pagos, e não compete com
o modelo de contribuição”, disse, acrescentando o universo dos trabalhadores
aposentados que ganham até R$ 4.120 a cobertura abrange
90%.
Gabas, que fez palestra sobre o tema na Escola do
Legislativo do Estado do Rio de Janeiro (Elerj), fez questão de frisar que, para
manter as sustentabilidade desse modelo é preciso de regras que dão acesso a
esses benefícios compatíveis com a realidade do país.
- Isso não é um
debate tranqüilo.
Quanto ao dito “rombo de caixa”, ele fez questão de
explicar ao MM que não existe. Segundo ele, o modelo foi construído de maneira
pensada na Constituição de 1988, com a contribuição dos trabalhadores e dos
empresários. Mas, se houver necessidade, diz, há uma previsão constitucional de
que o tesouro aporte esses recursos.
- A previdência urbana é
superavitária. Tem dado cerca de R$ 20 bilhões/ano. Ocorre que a previdência
rural, que não é assistencialista, é também contributiva - de onde vem 73% dos
alimentos consumidor no país, a constituição já previa a proteção, até como
forma de evitar o êxito rural.
Este segmento, segundo
ele, é deficitário e foi previsto assim, ou seja, para ser financiado pela
seguridade social, Cofins e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Essas duas fontes de custeio, de acordo com ele, não são transferidas para o
caixa da Previdência, gerando um déficit mensal.
- Brigamos muito para que
houvesse a separação de contas. Mas é muito difícil. A Fazenda alega que há uma
transformação hoje na contabilidade internacional. Mas o nosso discurso é de que
a Previdência Social hoje não corre nenhum risco. Os aposentados não têm nenhum
risco de não receber.
Quanto ao Fator Previdenciário, ele afirmou que
nunca cumpriu o seu papel para o qual foi criado, ou seja, de adiar as
aposentadorias. Segundo ele, no Brasil, as pessoas se aposentam muito cedo em
relação à expectativa de vida em outros países.
- A média de idade para
uma aposentadoria em geral é de 54 anos. Isto é muito cedo. E o que nós fazemos
no Brasil é uma grande confusão. O trabalhador pensa: “vou me aposentar cedo e
continuar trabalhando”. A aposentadoria deveria ser a substituição do salário.
Hoje, para quem se aposenta mais cedo tem um redução de cerca de 30% do seu
salário - disse, ressaltando é que preciso encontrar uma maneira de não
prejudicar quem começou a trabalhar mais cedo: “se eu coloco como idade mínima
65 anos, quem começou a trabalhar com 15 anos terá trabalhado 50 anos. e quem
iniciou com 30 anos, terá trabalhado 35 anos. Isso é uma injustiça. Precisamos
encontrar uma maneira de proteger os direitos de quem começou
cedo”.
Membro de Conselho Editorial do MM também participa
de debate
Economista do Dieese e membro do Conselho Editorial
do MONITOR MERCANTIL, Ademar Mineiro, que também participou do evento, explicou
que o Fator Previdenciário foi criado para fazer a combinação do tempo de
contribuição com o limite de idade. Porém, segundo ele, há uma série de
trabalhadores que tinham, nessa mudança de princípio tempo para se aposentar e
foram prejudicados.
- Acho que não deveria ter tido alterações. O Fator
Previdenciário é uma excrescência do sistema, incluso do ponto de vista
constitucional, que não prevê uma redução. O gestor público é quem tem que criar
mecanismos de financiamento. E esse capítulo da Constituição de 88 não foi
alterado. Então, seguramente ele prejudica o trabalhador - disse, acrescentando
que tem outro complicador, ou seja, se altera com a expectativa de vida: “pode
ter pessoas com mais tempo de contribuição porque a tabela foi alterada e esse
trabalhador fica prejudicado. O Fator reduz ainda mais a
aposentadoria”.
Um outro gargalo, segundo ele, diz respeito a
discussão de medidas de curto prazo para a Previdência. Este assunto, segundo
ele, deveria ser debatido em longo prazo porque se altera o futuro, a vida das
pessoas.
- No curto prazo não se deveria fazer mudanças na
Previdência. Deveria se manter uma discussão permanente porque a população está
envelhecendo pouco a pouco. Se tem hoje mais idosos do que jovens nascendo. E
isso faz com que o miolo da pirâmide, que sustenta as duas partes, os
não-laborativos, está muito maior. E essa situação se dará até o ano de
2030.
No que diz respeito ao caixa da Previdência, mais
conhecido como rombo, ele afirmou que essa é uma discussão conceitual e que ele
considera ruim. Em sua opinião, a Constituição criou uma série de mecanismos
para o financiamento deste benefício (Cofins, CSLL) como fontes geradoras de
receita. Além disso, parte das receitas das casas lotéricas deveriam ser usadas
para financiamento das aposentadorias e não só a
arrecadação.
- Se levar em consideração essa capítulo da
Constituição, a Previdência é perfeitamente financiável e superavitária. Mas, se
olhar do ponto de vista só para o que cada um paga, e o que tem que pagar,
eventualmente pode ter déficit. Mais isso não foi pensado pelo Constituinte de
88. (Jornal Monitor Mercantil)
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