703 mil podem optar pela
desaposentação
Impacto seria de pelo menos R$ 50 bi, diz AGU;
direito é debatido no Congresso e no STF
Com a troca de
aposentadoria avançando no Congresso e em debate no Supremo Tribunal Federal
(STF), o governo federal tem divulgado seus cálculos sobre o possível impacto
financeiro da medida. As estimativas já apresentadas variam de R$ 50 bilhões a
R$ 69 bilhões ao longo do tempo. O orçamento do Ministério da Previdência para
2013 é de R$ 362,4 bilhões.
A desaposentação ou
desaposentadoria, como ficou conhecido o mecanismo, é a possibilidade de se
renunciar ao benefício já conseguido para se obter outro mais vantajoso. É
interessante para quem se aposentou e continuou na ativa, pois, em muitos caos,
quanto mais tempo trabalhado, maior é o valor pago pelo Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS).
Segundo informou o Ministério da Previdência, em
fevereiro de 2012 havia 703 mil aposentados na ativa. Levando em conta apenas os
que tinham aposentadoria por tempo de contribuição em dezembro de 2010, o
recálculo dos benefícios significaram um impacto de R$ 69 bilhões “no longo
prazo”, informou a pasta.
Na última quarta-feira
(10), a Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado aprovou o projeto de lei
91/2010, que autoriza a desaposentação. Caso nenhum senador apresente recurso,
nem é preciso votação no plenário da Casa. O texto segue para a Câmara dos
Deputados.
Como ainda não há previsão legal, há pelo menos dez
anos os aposentados têm buscado a troca na Justiça. O número disparou depois que
o Superior Tribunal de Justiça (STJ) começou a se posicionar favoravelmente à
aposentadoria.
Segundo a Advocacia-Geral da União (AGU), que
defende o INSS na Justiça, existem atualmente 24 mil ações em tramitação. A
decisão sobre elas, porém, está suspensa, à espera de uma posição do STF em dois
recursos extraordinários. A data de julgamento ainda não foi
definida.
Essa decisão do STF pode, em tese, adiantar-se de
certa forma à própria lei, pois o INSS possivelmente irá começar aceitar os
pedidos de desaposentadoria na esfera administrativa se a posição do Tribunal
for favorável ao direita. Ou seja, o beneficiário não precisaria sequer entrar
com uma ação judicial para obter a troca – bastaria pedir numa agência da
Previdência Social.
“Como esse recurso (no STF) tem repercussão geral, a
postura que a AGU tem adotado e que o INSS tem observado é que as decisões do
Supremo são utilizadas como referência para a própria administração rever [sua
postura], independente de ação judicial”, diz ao iG Gustavo Augusto Freitas de
Lima, diretor-substituto do Departamento de Contencioso da Procuradoria-Geral
Federal, órgão vinculado à AGU. “Muito provavalmente, a orientação que for dada
no Supremo será adotada. Se ganharmos, essa posição será adotada. Se o Supremo
tiver uma posição distinta, muito possivelmente essa orientação será replicada
mesmo para quem não entrou com ação judicial.”
Com base nessa
interpretação, Lima afirma que o cálculo de uma decisão do STF a favor da
desaposentadoria poderia chegar a R$ 50 bilhões nos próximos 20
anos.
“A estimativa que temos hoje é que 500 mil
aposentados estão enquadrados nessa situação. Ou seja, continuam trabalhando.
Essas são as pessoas que potencialmente poderiam ser atingidas por esse tipo de
decisão”, diz Lima. “A estimativa é que, se o Supremo acatando essa tese, se ela
for aplicada a esses 500 mil aposentados, haveria um custo adicional de R$ 50
bilhões nas contadas da Previdência, que se refletiria nos próximos 20
anos.”
O STF, entretetanto, poderia restringir a
abrangência da decisão.
“A depender da decisão, a
gente vai saber se os 500 mil serão ou não atingidos. O Supremo pode dizer não,
a desaposentação não existe ou existe a partir do momento
tal.”
Devolução da aposentadoria
Para o
diretor-substituto, caso o STF venha a reconhecer o direito à troca de
benefício, deverá ao menos obrigar que os interessados devolvam os valores já
recebidos a título de aposentadoria. Essa posição está prevista numa súmula da
Turma de Uniformização dos Juizados Especiais Federais, que são uma porta de
entrada de milhares de ações contra o INSS, mas não é majoritária no
STJ.
“Se o Supremo acatar a tese da desaposentação, você
teria de devolver o dinheiro recebido da primeira aposentadoria para que você
tenha um tratamento isonômico”, diz Lima. “Isso é uma questão importante, porque
senão é uma injustiça muito grande com quem esperou para se aposentar. Quem
acreditou na regra não pode ser prejudicado”
O projeto que tramita no
Senado isenta o trabalhador de devolver o dinheiro, mas também impede que ele
contabilize, para fins de obtenção da nova aposentadoria, os anos trabalhados
enquanto recebia o benefício. Ou seja, o interessado só poderia levar em conta
os anos de contribuição anteriores à aposentadoria e posteriores à renúncia.
Como o texto ainda não foi aprovado, Lima preferiu não avaliar se, mesmo nessas
condições, deveria haver ou não devolução. (Vitor Sorano - Portal
iG)
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